sexta-feira, junho 18, 2010

Aquele Sujeito Esquisito

Será que poderia te pedir um favor? Vai embora. Mas vai mesmo. Não fica me lembrando que você existe. Desde o dia em que eu me mudei pra essa casa que você me atormenta. Às vezes, chego a acreditar que você é um fantasma. Que carma! V-A-I-I-I. Vai pra suas fantasias. Vai paquerar as mocinhas, aquelas que ficam na esquina rodando bolsinha. Tá pensando que vou ficar triste com sua ausência? A-há. Não vou mesmo. Até porque, você nunca esteve presente nem pra um café, quiçá pra uma conversa. Aliás, quem é você? Eu nem mesmo sei quem você é. Sim, criei um personagem. Um personagem raso, incompleto. Parecido com aqueles de contos decadentes em que o personagem é uma fraude. Ah, claro, você tem nome, idade, altura, bairro, tem até mesmo uma ideologia. Mas é um personagem raso. Não sei quais são seus conflitos, seus reais sentimentos, suas preferências, não sei se prefere vinho tinto ou vinho branco- você ao menos gosta de vinho?- se não gostar... Mais um motivo pra ir embora.
Você não me deu a permissão de te conhecer. Se existe alguém culpado pela decadência desse personagem é você. Tenho que aproveitar que veio tomar banho pra te pedir: NÃO VOLTA MAIS. Tá fazendo o que parado ai na minha frente? E sem cueca?! Com essa expressão eu-só-quero-que-você-seja-feliz. SA-A-A-A-A-A-A-I!!! Olha só, já tem gente batendo na porta. Não terminei de dizer o que queria, fica ai.

-Oi.
-Oi, sou do 701. Tá tudo bem?
- E porque não estaria? Estranho, pensei que eu fosse a única moradora dessa região...
- Desculpa. Eu ouvi um grito.
- Você nunca grita?
- Nunca quando estou sozinho.
-Isso porque você não tem capacidade de abstração. Amor também é um grito abstrato e solitário... Vai embora você também.

João? Tá aí? João?

Foi embora e nem deixou um cartão postal sequer.
Filho da puta.