quarta-feira, dezembro 09, 2009

Esperando por Godot II


Contando os grãos de areia
E comendo uma pêra
que,
Facilmente trocaria por uma nêspera.

Contando os grãos de areia
E comendo pêra
Desvio a atenção de que
Hoje é véspera

Assim, desvio o pensamento e omito que
Amanhã é véspera

Divirto-me por ter esperança
E lembro-me de esquecer que
Depois de amanhã também é véspera

Um dia de sol,
Outro de chuva

E eu n'êspera.

terça-feira, dezembro 01, 2009

O cacto Clarice



" Só se vê bem com o coração.

O essencial é invisível para os olhos."

(Antoine de Saint-Exupéry)

A partir daquele dia, decidiu não mais regar a planta que ganhou de presente da sobrinha. Estava revoltado com o fato da planta não ser um cacto.
-Eu fui bem claro, disse que queria um cacto - Repetia sozinho indignado na varanda cor de anis.
No dia em que ganhou Clarice, a plantinha, ele ficou feliz. Foi após a visita do João-pé-de-cana que o dono da plantinha passou a ignorá-la.
- Essa é a Clarice, minha flor de cacto favorita – Disse com um sorriso bem forte no rosto, apresentando a Clarice para João-pé-de-cana .
- Mas isso não é um cacto, essa planta mais me parece com aquela espécie comigo-ninguém-pode - João-pé-de-cana comentou com toda a sua ilucidez.
O dono da plantinha, que ficou cego após um acidente no trabalho, acreditou no julgamento do João-pé-de-cana. Ele tem olhos bons e pode ver que essa planta não é um cacto- pensou. Após nove dias, o cacto Clarice morreu.
-Tio, cadê a Clarice?- a sobrinha de oito anos perguntou durante uma visita.
-A Clarice não era o que eu pensava. Ela era um comigo-ninguém-pode e não um lindo cacto- respondeu o ex-dono da plantinha com o semblante fechado.
-Comigo-ninguém-pode? Pelos meus conhecimentos, comigo-ninguém-pode não tem espinhos, já a Clarice os têm!-Argumentou a pequena sobrinha- Onde está ela? Se a sentir com as mãos, se fizer um carinho, sentirá os seus espinhos finos coloridos.
-Clarice morreu- O ex-dono da Clarice respondeu com um semblante murcho.